Proliferação de algas no Rio Pardo ameaça biodiversidade na região

A crescente proliferação de algas no trecho do Rio Pardo à montante da Usina Hidrelétrica Mimoso, em Ribas do Rio Pardo, que antes vinha preocupando apenas pescadores e a direção da unidade de produção de energia elétrica, começou agora a chamar a atenção da classe política.

Desde o mês de abril, circulam nas redes sociais vídeos e fotos que mostram trecho do rio totalmente tomado pelas algas, dispersadas apenas quando surge vento mais forte.

O fenômeno é inédito, garante a população ribeirinha, que vê na entrada em operação da fábrica de celulose da Suzano a possível causa do problema, o que a empresa nega.

Tanto a biodiversidade no Rio Pardo e no seu entorno quanto o funcionamento da Usina Hidrelétrica Mimoso correm risco de serem afetadas com o desequilíbrio ambiental provocado pelo fenômeno.

As imagens captadas em abril passado foram enviadas para o Vox MS por donos de sítios instalados às margens do Rio Pardo. No entanto, pescadores garantem que o fenômeno teve início ainda no mês de janeiro.

Situação atípica

Procurada pelo Vox MS, a assessoria de imprensa da Elera Renováveis, responsável pela Hidrelétrica Mimoso, informou por meio de nota que “em fevereiro de 2025, a empresa identificou no reservatório, na região do barramento, a presença elevada de macrófitas (plantas aquáticas) flutuantes”.

Desde então, continua a assessoria, “vem realizando manobras para preservar o funcionamento adequado da central hidrelétrica e reduzir os impactos na operação. A empresa também notificou o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (IMASUL), órgão ambiental competente, e se colocou à disposição para informações adicionais”.

“É importante destacar que há histórico de registros de macrófitas predominantemente fixas, porém, dessa natureza (flutuantes) e na quantidade que vem sendo registrada, é atípico para a usina”, finaliza a nota.

Imasul segue calado

Diante da manifestação da Elera Renováveis, o Vox MS entrou em contato com a assessoria de imprensa do Imasul no dia 30 de abril, solicitando informações sobre as providências adotadas após ser notificada sobre o problema pela Elera Renováveis.

No dia 22 de maio o Imasul foi novamente cobrado, via assessoria de imprensa, e mais uma vez a direção do órgão não se manifestou. O espaço segue aberto caso a direção do Instituto queira prestar algum esclarecimento a respeito da questão.

Vereadora também cobrou

No dia 20 de maio, em sessão na Câmara Municipal de Ribas do Rio Pardo, a vereadora Jaqueline Arimura (PT) também cobrou posicionamento do Imasul e da prefeitura.

Juntamente com os colegas Lucas Lopes (PT) e Jeová da Silva Prado (PP), ela visitou os pontos de maior concentração de algas e conversou com moradores e funcionário da usina Mimoso.

“A proliferação de plantas aquáticas tem prejudicado a operação da usina e pescadores que se valem do rio para sobreviver”, disse ela.

Ela explicou que em conversa com um dos funcionários da usina, este disse que jamais tinha visto algo igual naquele trecho do Rio Pardo.

“As algas estão entupindo os filtros da usina e o trabalho de retirada desse material, que era feito de 15 em 15 dias, passou a ocorrer a cada dois dias, para não comprometer o funcionamento de todo o complexo”, disse a parlamentar.

Prefeitura de Ribas

A parlamentar disse ter encaminhado expediente à Secretaria Municipal de Empreendedorismo da prefeitura, que possui um setor voltado ao meio ambiente, e também ao Imasul, cobrando providências e cópia de estudos e laudos que eventualmente tenham sido elaborados. Ao Vox MS, ela disse não ter recebido até hoje nenhuma resposta do município e do Instituto.

O prefeito Roberson Moureira (PSDB), por sua vez, informou à 90 FM, de Ribas do Rio Pardo, no dia 29 de abril, que seria realizada análise técnica “nos próximos dias para identificar as causas da proliferação anormal”.

“Estamos acompanhando de perto e vamos buscar explicações com especialistas para tranquilizar a população e, se necessário, tomar as medidas adequadas”, afirmou Moureira na ocasião.

Repercussão na ALEMS

Nesta semana, em sessão na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Pedro Kemp (PT) também cobrou posicionamento do Imasul e acionou o Ministério Público Estadual.

Por meio de indicação, pediu que a questão seja encaminhada à procuradora de Justiça Ana Raquel Borges de Figueiredo Nina e a André Borges Barros de Araújo, diretor-presidente do Imasul, para que este último determine com urgência a realização de investigação.

Plantação de eucalipto

Ainda na sessão no dia 20 de maio, a vereadora Jaqueline Arimura fez uma abordagem técnica sobre o assunto.

“Não somos especialista na área, mas pesquisamos sobre essas plantas e esse tipo de fenômeno e constatamos que nas cidades onde há muita plantação de eucalipto, em função das chuvas, esses nutrientes vão para o rio e aumentam o fósforo e nitrogênio na água, alimentando as algas, que então proliferam”, argumentou.

O aumento dessas plantas pode provocar a morte dos peixes, por meio da redução do oxigênio na água, além de atrapalhar o funcionamento da usina.

O funcionário também relatou que a empresa não fez nenhuma limpeza no rio porque não há estudos técnicos e que por isso não pode a retirada do material.

“Em certos horários, de acordo com o vento, elas se juntam. Elas voltam a se espalhar, somem, mas continuam lá. Não foi feita nenhuma ação de retirada das algas do leito do rio, apenas das instalações da usina”, disse o funcionário.

Suzano nega responsabilidade

A fábrica da Suzano em Ribas do Rio Pardo entrou em operação no ano passado. Procurada pelo Vox MS, a assessoria de imprensa da companhia se manifestou por meio de nota.

A empresa explicou que após passarem pela Estação de Tratamento, os efluentes industriais retornam ao Rio Pardo “com qualidade que não apenas atende, mas é mais restritiva que os limites legais vigentes e cujos resultados são entregues e monitorados pelo órgão ambiental responsável”.

E destacou ainda que “o sistema de captação de água da unidade está localizado a jusante do ponto de lançamento dos efluentes tratados. Isso significa que utilizamos a própria água que devolvemos ao rio, garantindo sua qualidade”.

Caso a proliferação de algas esteja ocorrendo em função do escoamento de resíduos de eucalipto (folhas e galhos, dentre outros) para o leito do Rio Pardo a partir da água da chuva, o tratamento de efluentes feito pela Suzano não evitará que o fenômeno da proliferação se mantenha.

voxms.com.br

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