“Sucuri do buraco.” Assim é conhecida a serpente gigante moradora do Buraco das Araras, que é uma formação rochosa milenar, em Jardim (MS). O local onde a cobra mora é uma cavidade formada pela decomposição de rochas ao longo do tempo e lar de centenas de araras-vermelhas.
🕵️♀️🐍A chegada da serpente à dolina é um mistério. Alguns guias do local acreditam que a cobra possa ter sido arrastada por uma enxurrada durante uma forte chuva e acabou ficando presa na cratera que tem 100 metros de profundidade e 500 metros de circunferência.
A sucuri foi avistada pela primeira vez em 2017 por um turista, usando um binóculo. A idade exata da cobra é desconhecida, já que é proibido entrar no Buraco das Araras e o animal não consegue sair do local por ser um paredão enorme.
“O turista estava com um binóculo e falou que estava vendo um tronco se mexer, quando o guia que o acompanhava foi ver, era ela. Foi a primeira vez que a vimos claramente, foi incrível, mas começamos a pensar como ela chegou lá? Ela vive em completo isolamento do resto do mundo, o mundo dela é o buraco”, disse Josenildo Vasquez, turismólogo da propriedade.
Moradora de buraco milenar e hábitos solitários
Avistamentos registrados da sucuri ao longo dos últimos anos no Buraco das Araras. — Foto: Mayara Peres Rodrigues/ Multi-frequência
Segundo Josenildo, avistar a serpente é sempre um momento de muita sorte. Ao longo dos anos, ela foi vista pouquíssimas vezes.
“Depois que descobrimos a presença dela, foram poucas as vezes que conseguimos vê-la, umas 5, 6 vezes, é muito raro, mas sempre muito especial. Em quase todas as vezes ela estava no fundo da dolina em meio a vegetação, mas uma vez ela foi avistada no paredão, até a parte que ela consegue acessar, antes da parte mais reta dos paredões”.
O g1 conversou com a doutora em Ecologia e especialista em répteis Juliana de Souza Terra, que explicou que o fato da sucuri viver sem ter contato com outras da sua espécie não é tão fora do comum para o animal.
“As sucuris têm hábitos solitários, não é incomum encontrar mais de uma dividindo o mesmo ambiente, mas elas não costumam interagir, sendo solitárias. Apenas durante a época reprodutiva que observamos agregações de sucuris chamadas de bolo de reprodução, nessas ocasiões uma fêmea libera feromônios para atrair os machos da região para a cópula, mas no resto do ano elas são solitárias”.
Com base nos registros feitos da cobra, a pesquisadora acredita que a serpente seja uma fêmea.
Conheça o Buraco das Araras
A formação geológica do local teve início há mais de 10 milhões de anos e o grande buraco que abriga inúmeras espécies foi formado há cerca de 300 mil anos. Além da sucuri, o local também é lar de 120 araras-vermelhas e mais de 150 espécies de animais silvestres.
Por causa da rica biodiversidade que habita as paredes e o fundo da cratera, o local foi reconhecido como uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) em 2007 pelo governo federal.
➡️ O que é uma RPPN❓ É uma área de proteção ambiental criada em uma propriedade privada por iniciativa do dono da terra, que pode ser uma pessoa ou uma empresa, conforme determina o decreto federal 5.746/2006, que regulamenta essas áreas.
Desde que foi reconhecido como uma RPPN, a entrada de pessoas dentro do buraco das araras é estritamente proibida, sendo liberada em casos de pesquisa científica e com o acompanhamento de órgãos fiscalizadores estaduais e federais.
Turismo sustentável, pesquisa e educação
Dentro e ao redor das RPPNs, como na do Buraco das Araras, apenas três atividades são permitidas:
- 👩🔬a pesquisa – pesquisadores e biólogos frequentam o local para estudar as aves, o solo e as plantas;
- 🧗♀️o ecoturismo – trilhas, observação de aves, visitas guiadas. Tudo bem controlado para não impactar o ambiente;
- 📚educação ambiental – atividades que educam os visitantes sobre a importância da conservação.
Infográfico mostra processo de formação de dolina. — Foto: g1
Avistamentos registrados da sucuri ao longo dos últimos anos no Buraco das Araras. — Foto: Mayara Peres Rodrigues/ Multi-frequência
Fonte: g1